19 fevereiro 2007

CAÇA POR ESPORTE ???

adaptado do texto de Dagomir Marquezi

Eu sou a favor da caça. Desde que se mudem algumas regras. O bravo caçador a partir de agora deve agir de igual para igual. Fica nu e sai para o mato sem nenhuma arma a não ser suas unhas, seus músculos e seus dentes. Aí sim, temos uma caçada justa. Se conseguir, o caçador vai poder voltar com sua penca de animais mortos e ter orgulho disso.

Enfrentar aves e mamíferos com armas de fogo não é caçada, é covardia. Alguém que se diverte matando animais não pode ter desculpa para isso. Mas caçadores costumam justificar seu divertimento invocando as causas mais nobres.

“Esporte”?
Uma delas é classificar caçadas como “esporte”. Esportes, por definição visam o aperfeiçoamento físico e mental de quem o pratica. Correr (a pé!) é esporte. Jogar futebol ou basquete, nadar, escalar uma montanha, tudo isso é esporte. Atirar num animal é esporte? O ato de atirar, em si, talvez seja. Fazer a mira, concentrar, treinar o cérebro para atingir o ponto desejado faz parte dos Jogos Olímpicos. Mas o esportista pode muito bem mirar num alvo de papel ou numa lata vazia. Atirar num animal indefeso, que tipo de benefício físico/mental acrescenta ao “esportista”? Aliás, nenhum animal é consultado se aceita participar desse “esporte”.

“Tradição”?
Outra das desculpas usadas pelos defensores da caça: eles estariam defendendo uma “tradição”. Ora, queimar suspeitos de bruxarias em fogueiras também já foi uma tradição, felizmente banida. Uma grande polêmica aconteceu no Reino Unido nos últimos meses. A tradicional – e sádica – caça à raposa, que serve de diversão a nobres e ricos foi finalmente proibida na Escócia, não sem antes enfrentar a fúria dos seus partidários. “É uma tradição!” Por trás da tradição, como sempre, gente que lucra com a morte da raposa: criadores de cães e cavalos, vendedores de equipamentos, criados e auxiliares, a indústria de armas.

“Equilíbrio”?
O mais cínico argumento a favor da caça é o que diz que ajuda no “equilíbrio ecológico”.
A caça poderia diminuir populações excedentes num eco-sistema.Javalis demais? Soltem os caçadores. Isso sempre foi trabalho realizado pelas leis naturais, e não por homens com rifles nas costas.
Este argumento “ecológico” lembra um fato real acontecido na China, em plena ditadura comunista de Mao Tse-tung, na década de 1950. Uma das províncias agrícolas chinesas enfrentava problemas com o excesso de pardais, que atrapalhavam as colheitas ao comerem as sementes plantadas. Ao saber do fato, o “sábio” ditador deu ordens para que a população matasse todo e qualquer pardal que encontrasse pela frente. Foi um grande massacre em nome da “caça ecológica”.

Resultado: sem os pássaros, seus predadores naturais, os gafanhotos se sentiram à vontade para arrasar com as plantações da província inteira, gerando um longo período de fome e miséria.

Pretextos
A atual geração de “caçadores ecologistas” não é tão estúpida quanto o camarada Mao, mas suas desculpas são pretextos bobos para quem se diverte derramando sangue. E não disfarçam o interesse comercial em seus “ideais”. Javalis estão destruindo plantações e precisam ser caçados e “sua carne é uma delícia”. A caça vai salvar a fauna brasileira – e fazendas liberadas para caça (no Rio Grande do Sul) costumam dobrar seu valor.

Oportunismo
Infelizmente o Brasil não tem um único deputado ambientalista. Mas existem vários parlamentares tentando passar leis que voltam a legalizar a caça no Brasil. As forças que a defendem movimentam- se discretamente, pois sabem que não vão conseguir ganhar a opinião pública a seu favor. Eles apelam para legisladores pouco conhecidos, que plantam projetos de lei para serem aprovadas num momento de cochilo e oportunismo.

Matar
Caçar “por esporte” é matar por futilidade, e o resto é enrolação. Caçar é destruir famílias de animais, quebrar cadeias ecológicas, provocar sofrimento e dor. E ganhar dinheiro com isso. Pode se justificar em casos muito específicos. Uma pessoa que esteja num ambiente natural e é atacada por um animal pode se defender, assim como pode caçar para se alimentar, se sua sobrevivência depender disso. Essas regras são seguidas em todo o reino animal.Só o bicho homem mata por matar.

FONTE: reprodução de reportagem do jornal Notícias da ARCA, nº 5 publicado pela ARCA Brasil - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal. www.arcabrasil.org.