Pit bulls não são naturalmente ferozes, garantem especialistas
Os cães da raça pit bull, temidos pela suposta ferocidade, não merecem a fama de violentos, garantem os especialistas. Segundo eles, essa raça não é mais brava que outras como rotweiller e doberman.
“Uma das raças que mais se atende em clínica hoje é o pit bull. E a grande maioria deles são mansos. Eles não impõe problemas é raro que sejam agressivo”, diz o veterinário Luiz Henrique Filippi, da Comissão de Ética do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, que mantém uma clínica há 21 anos.
O professor Marco Antônio Gioso, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), concorda. “Está cheio de registro de acidentes gravíssimos envolvendo outras raças. Tem pincher que arranca dedo de criança. Mas as pessoas ficam ‘encanadas’ com o pit bull, porque ele é muito forte.”
Segundo os especialistas, o comportamento violento de alguns cães pode ser explicado pela genética. “Como qualquer outra raça, o pit bull pode ser acasalado para ficar bravo ou calmo. Como alguns criadores só querem cachorros bravos, só cruzam animais assim. Aí, vamos ter uma linhagem de pit bulls bravos.”
O comportamento dos donos também vai ser determinante para a formação da personalidade do cachorro. “Não se deve esticá-lo, provocá-lo. Senão, ele fica neurótico e a neurose dele extrapola para ira”, diz Filippi. “Tenho vários clientes que têm pit bull. Tratado com carinho, entre crianças, ele é um cachorro normal”, completa.
Dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo, responsável pelo controle de animais domésticos na capital, confirmam a opinião dos especialistas. Neste ano, dos 645 cães detidos após ataques, 77 eram pit bulls. A maioria deles era vira-latas.
Ficar solto na rua tem sido o destino de muitos pit bulls. De acordo com levantamento do CCZ, o número de cães desta raça abandonados cresceu 95 % entre 2006 e 2007.
Se comparados apenas os dados dos anos de 2005 e 2007, o aumento foi de 243%. O principal motivo seriam as recentes notícias de ataques. Em muitos casos, as vítimas são os próprios donos.
Foi o que aconteceu com uma menina de 6 anos, que está há quase uma semana internada em um hospital de Santo André, no ABC, depois de ter sido mordida pelo pit bull da família. Ela teve lesões em todo o corpo e respira com a ajuda de aparelhos.
Em 2005, o CCZ recebeu 180 pit bulls. No ano seguinte, foram 352. Até agosto de 2007, o número já chegava a 619.
Para se ter uma idéia, o registro de rottweilers recolhidos até junho deste ano foi de 238 cachorros. Apesar disso, segundo o veterinário Arquimedes Galano, que trabalha no CCZ, a maioria dos cães abandonados não tem raça definida. Mesmo assim, o pit bull é o mais temido.
“Em cada ataque que ocorre, principalmente com crianças, as pessoas ficam com medo e simplesmente abandonam os animais. Acham que ele vai atacar na própria casa, o que acaba virando uma paranóia nacional”, explicou o veterinário.
De acordo com ele, a criança é o alvo preferido dos pit bulls. “Como ela brinca, coloca a mão na boca do cachorro, ele entende como um desafio. Normalmente ataca no rosto para mostrar dominância”, disse Galano, que não recomendou às famílias com filhos a criação de cães da raça pit bull. “Ele tem de ser bem adestrado”.
O analista de suporte Gustavo Ferreira, de 26 anos, sabe disso. Há dois anos, cria Thor, um pit bull de cor caramelo, que passou por adestramento. Porém, somente para obedecer ao dono. “Ele fez adestramento, mas não socialização com crianças e outros cães. Isso é um problema, porque ele vê a criança como uma caça e tenho de tomar cuidado”.
Ferreira rebateu a idéia de um dia ter de abandonar seu cachorro. “Não tenho motivo para isso. Ele é dócil, tranqüilo”, afirmou. Ele defendeu a punição dos donos e não do animal em casos de ataque. O analista também condenou a violência contra o bicho de estimação. “Ele vai respeitar o dono por medo. Um dia vai acabar atacando”.
Ataques
Os cães com histórico de agressão encaminhados ao CCZ ficam isolados em canis por dez dias. É o tempo em que poderiam se manifestar os sintomas da raiva, doença transmitida pela saliva do cachorro.
Os outros animais que vão para lá também têm um período de observação e, caso o dono não seja encontrado, são levados para adoção. A prática da eutanásia é aplicada em último caso – quando o cão é muito agressivo e não tem condições de voltar para o convívio social ou se está com uma doença incurável.
Por ano, os veterinários do CCZ calculam receber, em média, 16 mil cães. São animais abandonados por serem bravos, doentes ou até mesmo pela falta de dinheiro dos donos. Em alguns casos, eles se desfazem do bicho de estimação por não ter espaço para criá-los de forma adequada.
Thor teve sorte. “Ele ia ser adotado. Quando o vi em uma caixa, cheio de pulga e embolado em um jornal, resolvi ficar com o cachorro”, afirmou Ferreira. Inofensivo, na época o cãozinho tinha apenas 40 dias.
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