O problema dos ovos
Essa imagem não tem mais nada de real. As fazendas que abastecem as grandes cidades não são mais controladas por pessoas simples do interior.
Fazenda agora é um grande negócio. Os métodos de linha de montagem e a entrada de grandes empresas transformaram o campo em "agribusiness". Os pequenos produtores têm que adotar os mesmos métodos que as grandes empresas ou então fecham seu negócio.
O "agribusiness" é uma atividade competitiva em que não há mais lugar para sentimentos ou integração com plantas, animais e com a natureza. Os métodos adotados cortam custos e aumentam a produção. Animais são tratados como máquinas que convertem rações baratas em carne, ovos e leite mais caros.
Sob esses métodos, os animais vivem vidas miseráveis do nascimento ao abate. As galinhas têm a má sorte de servirem aos humanos de duas maneiras: pela sua carne e pelos seus ovos.
O grau de confinamento ao qual a galinha poedeira está sujeita é extremamente alto e impõe severas restrições ao seu comportamento normal. Normalmente, são usadas gaiolas contendo 2 ou 3 aves medem de 30 a 35 centímetros de largura por 43 de comprimento (menos que uma página de jornal aberta).
Sob tais condições, as aves não podem esticar suas asas, nem se mover sem esfregarem-se umas nas outras ou se levantar totalmente no fundo da gaiola (o chão da gaiola é inclinado para o ovo rolar em direção à calha coletora).
Grande parte do padrão de comportamento normal é frustrado pelo engaiolamento. O comportamento de acasalamento, incubação e cuidado com os pintinhos é impedido e a única compulsão reprodutiva permitida é o pôr dos ovos. Elas não podem voar, ciscar, se empoleirar nem andar livremente. É difícil para a galinha, limpar suas penas e é impossível se "sujar" com terra. [Brambell Report]
Em alguns casos, o número de galinhas chega a 9 galinhas por gaiola.
Devido ao estresse que as galinhas enfrentam, elas disputam a hierarquia entre si à bicadas. Isso causa prejuízo aos avicultores, e é a principal motivação para o corte da ponta dos bicos das aves feita com uma lâmina aquecida. Essa lâmina é aplicada na ponta do bico das aves, por onde correm vasos sanguíneos, causando dor intensa. O desbicamento é feito duas vezes na vida de uma galinha: logo após o nascimento e logo antes da época de pôr os ovos.
Para poupar em salários, não há funcionários dedicados a cuidar das aves que adoecem.
O chão das gaiolas é de arame, o que facilita a limpeza das vezes que caem por entre as grades e se acumulam no chão durante meses (causando um cheiro insuportável), mas causa desconforto durante toda a vida da galinha. É comum os criadores - quando se incomodam de averiguar - detectarem algumas galinhas cuja pele do pé cresceu em volta da grade, mantendo-as presas.
Quando a produção de ovos declina, o avicultor tem duas alternativas: ou vende o lote para o abate, ou força a perda de penas sazonal. A perda de penas sazonal é um processo fisiológico natural, onde as penas das galinhas caem e penas novas crescem no lugar. Depois da renovação das penas, as galinhas tendem a pôr ovos com maior frequência.
O avicultor provoca essa reação fisiológica de maneira artificial, por meio de um choque biológico: por dois dias, as galinhas não terão nem água, nem alimento. Ao mesmo tempo, a iluminação, que costuma ficar ligada 17 horas por dia para estimular a produção,
Em alguns casos, as galinhas "gastas" não têm direito nem à última refeição. Para economizar em ração, o avicultor suspende o alimento 30 horas antes do abate, já que o abatedouro não paga pelo alimento que fica no aparelho digestivo.