Sacrifício de 500 mil animais em Meca celebra fim da peregrinação
Os quase dois milhões quinhentos mil peregrinos que este ano foram à Meca sacrificaram hoje 500 mil animais para celebrar o fim da peregrinação, um do momentos mais importantes na vida de todo muçulmano.
Por meio do enviado Maomé, Alá ordenou aos muçulmanos o cumprimento de cinco pilares: proferir a fé, a oração, a esmola, o jejum e a peregrinação pelo menos uma vez na vida à cidade de Meca, na Arábia Saudita.
No entanto, muçulmanos que tenham problemas econômicos ou físicos não precisam cumprir as normas.
Os peregrinos, após três dias de longas esperas em aglomerações e de extenuação, mas principalmente de fervor religioso, rezas e meditações, degolaram hoje milhares de ovelhas, vacas e camelos, para celebrar também a expiação de todos seus pecados durante a peregrinação.
Os peregrinos participaram deste rito, que é realizado em todo o mundo árabe e islâmico, e em muitos dos lugares por onde foi estendida a religião, que conta com mais de 1,6 bilhão de seguidores.
As autoridades sauditas construíram vários matadouros para facilitar a degola dos animais pelos peregrinos.
No mesmo dia ocorreu a primeira noite de recolhimento em Mina, a ascensão ao Monte Arafat, que ontem marcou o ápice da peregrinação.
Neste monte, ao qual os peregrinos subiram para rezar e meditar até o pôr do sol, Maomé fez o seu discurso de despedida.
Ali escutaram também o sermão da sexta-feira do mufti do reino, Abdelaziz bin Abdallah.
Sacrifício de Abraão
A degola do cordeiro, com um corte seco para evitar que o animal sofra, é realizada em comemoração ao sacrifício que Abraão realizou ao invés de matar seu filho Ismael, segundo a tradição muçulmana, de quem descendem as tribos árabes.
A história conta que, quando Abraão levava seu filho rumo à morte, o demônio teria aparecido diante dele, para tentar persuadi-lo a não entregar o filho à Deus: "Como Ele pode pedir-te isso? Não vês que não te quer? Não obedeça a Ele!", teria dito o demônio, segundo o Corão.
Como resistiu às tentações do demônio, Abraão foi recompensado por Deus, que lhe disse para sacrificar um cordeiro ao invés de seu filho.
O Velho Testamento da Bíblia, contudo, relata a mesma passagem da vida Abraão, mas o filho a ser sacrificado, segundo essas escrituras, era Isaque, fruto de seu casamento com Sara.
Isaque foi pai de Esaú e Jacó. Este último, ainda de acordo com a Bíblia, teve 12 filhos, cujos descendentes originaram as tribos de Israel.
Detalhe que parece ser ignorado tanto por judeus quanto por muçulmanos é que todos descendem do mesmo patriarca.
A própria Bíblia relata a existência de Ismael, que foi o filho primogênito de Abraão com a serva de sua mulher, Agar.
De acordo com o Velho Testamento, Sara era estéril e entregara sua serva para que o marido perpetuasse sua descendência. No entanto, para recompensar a fé de seu servo fiel, Deus fez com que Sara tivesse Isaque à idade de 90 anos.
Nesta manhã, os peregrinos de Meca passaram pelo lugar onde três colunas simbolizam as três tentações. Contra cada uma delas, lançaram sete pedras, gritando "Allahu Akbar" (Deus é grande).
Após terem terminado todos os ritos estabelecidos para completar este dogma de fé, os peregrinos, ainda vestidos em suas túnicas brancas, xiitas e sunitas de todos os cantos do mundo e limpos de pecado, voltam às suas casas para contar aos seus parentes sobre a experiência.
Aos muçulmanos que retornam da peregrinação é dado o título de honra "hajj" (peregrino), reservado só para aqueles que completaram este pilar, que abre um pouco mais aos bons crentes as portas do paraíso.
FONTE:http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u103320.shtml